quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Vôo 609

A Inglaterra do final da década de 50 era dominada por um homem, Matt Busby. Ao contrário do que muita gente acredita, é ele, e não Alex Ferguson, o homem que detém o recorde de tempo comandando o Manchester United. Busby começou a construir um time tendo como base garotos de 16 e 17 anos que acabaram sendo eternizados como “Busby Babes”. Mais da metade do time era composta por garotos, esses que conseguiram o feito de ganhar o Campeonato Inglês por dois anos seguidos (1956 e 1957) e também ficaram em segundo lugar na Copa da Inglaterra de 1957. Eram a promessa do futebol inglês!

Só para ilustrar: em 1956 o imbatível e jovial Manchester ficou 11 pontos à frente do segundo colocado Blackpool e no ano seguinte, 8 pontos de vantagem em relação ao vice, Tottenham.


Dessa seleção de meninos um se destacava: Duncan Edwards. Possivelmente, quem nasceu depois da década de 50 não sabe quem ele é e, por isso, não entende o porquê da mágica que rodeia tal nome. Os que o viram jogar, certamente não o esqueceu. Sir Bobby Charlton, uma das maiores lendas do futebol inglês, se referiu a ele como “herói”. E se Sir Bobby diz, quem somos nós, meros mortais, para discordar?! Além do fato dos dois terem jogado juntos sob o comando de Busby, Charlton não é um desentendido em futebol. Ele estava no time campeão mundial de 1966, e na primeira conquista européia dos red devils. Por essas e outras, não é exagero dizer que Duncan Edwards é uma lenda para as lendas do futebol inglês.

Edwards era uma espécie de volante, um meio de campo defensivo, mas, segundo quem o viu em campo, ele podia jogar em qualquer posição, "um jogador completo".

O repórter Nabil Hassan, da BBC, faz uma bela analogia para exemplificar as características do garoto: "imagine o chute de Wayne Rooney, Nemanja Vidic no ar, o carrinho de Roy Keane e o passe de Paul Scholes e então você tem Edwards". Basicamente, é juntar as melhores características de alguns dos melhores de todos os tempos do Manchester e encontrar um. Um grande jogador.

Na temporada 56-57, os garotos conquistaram outro feito: Foram os primeiros representantes ingleses a participarem de uma competição européia. E o fizeram bem, chegando até a semi-final onde foram eliminados pelos futuros campeões do Real Madrid. Eles também têm, dessa temporada, o recorde de gols marcados em uma só partida até hoje: 10-0 no Anderlecht. Na temporada seguinte eles repetiram a excelente campanha e ganharam o respeito de todos do mundo do futebol, tanto que eram considerados por muitos os favoritos para vencer a Taça dos Campeões Europeus. Passo a passo os “Busby Babes” chegaram até as Quartas-de-Final, onde encontraram o Estrela Vermelha, de Belgrado. Ganharam o jogo em casa e empataram fora, assegurando assim mais uma vez a vaga nas semifinais. A festa, no entanto, não durou muito tempo, pois a trajetória até Belgrado é de triste memória para os garotos de Manchester.


O avião, um AS-57 Ambassador, que levava a equipe, mais a comissão técnica e alguns jornalistas de volta à Inglaterra parou em Munique para reabastecer. Era o vôo 609 da British European Airways. A pista cheia de neve dificultava a decolagem e na terceira tentativa às 15h04 do dia 6 de fevereiro de 1958 o avião não conseguiu altitude o suficiente, batendo em uma cerca e depois em uma casa. Dos quarenta e quatro passageiros a bordo, vinte um morreram na hora, outros dois morreram mais tarde, um deles Duncan Edwards, na época com 21 anos. Oito dos “Busby Babes” perderam a vida. São eles: Geoff Bent, Roger Byrne, Eddie Colman, Duncan Edwards, Mark Jones, David Pegg, Tommy Taylor e Liam Whelan.


Quer sentir melhor o que foi o desastre de Munique? Imagine que logo após ganhar a Copa de 1958, nossa seleção, voltando para casa, sofresse um acidente e, dentre os titulares, 8 morressem, Pelé inclusive. O coração parou de bater por um segundo? Foi mais ou menos assim que aquela nação se sentiu. Não era só uma questão de um time. Eram sete garotos que poderiam se tornar heróis nacionais naquele mesmo ano - sete porque Liam Whelan era irlandês - eram a esperança da Inglaterra de grandes e inesquecíveis conquistas.

Agora, com 50 anos do desastre, o povo inglês continua mostrando respeito aos nomes que se eternizaram nas páginas do seu futebol. No amistoso desta quarta-feira, contra a Suíça, em Wembley, será feito um minuto de silêncio em respeito às vítimas. E isso também acontecerá quando o atual elenco do Manchester United entrar em campo domingo, no Old Trafford - trajados com camisas especiais, inspiradas naquela usada nos anos 50 – para enfrentar o Manchester City, pela 26ª rodada da Premier League.

Fotos: BBC, Getty Images.

6 comentários:

Anônimo disse...

Olá. Poderia, por favor, me tirar uma dúvida? Hoje Globo Esporte exibiu uma reportagem sobre o acidente e nela Bobby Charlton se refiria a um jogador como sendo o maior de todos os tempos. Seria o Duncan Edwards?

Obrigado pela atenção

Marcélio Machado

Unknown disse...

Como vc não deixou contato, Marcélio, vou responder aqui mesmo. Apesar deu não ter assistido o Globo Esporte, vindo do Bobby Charlton só pode ser mesmo o Duncan Edwards. Em todas as entrevistas é a mesma resposta. Além de companheiros de equipe os dois também eram melhores amigos e o respeito e admiração continuam até hoje.

Net Esportes disse...

Excelente seu post e seu blog também, se quiser podemos trocar links, veja - http://netesporte.blogspot.com/

Anônimo disse...

Obrigado. O seu blog é demais heim. Eu sou fissurado no futebol britânico e não conheço nenhum site em português com tantas informações. Parabéns!

Victor Hugo Antinossi disse...

Muito bom o post Gabi. Confesso que sabia do acidente, mas não com tantos detalhes. E muito menos de um time que era tão promissor. Agora imagina esses garotos jogando a Copa de 66 que a própria Inglaterra ganhou? Acho que seria muito mais fácil.

Abs.

http://futegol.blogspot.com

Anônimo disse...

Antes disso. Imagine esses garotos ajudando a seleção de 62.